Desperta, ó tu que dormes,
levanta-te dentre os mortos e Cristo te iluminará. Andai prudentemente, não
como néscios e, sim, como sábios, remindo o tempo, porque os dias são maus. Não
vos torneis insensatos, mas procurai compreender qual é a vontade do Senhor.
(Epístola aos Efésios, 5:14-17)
Considerando o tempo como
o grande tesouro que Deus nos oferece em favor de nossa evolução, onde
estivermos poderemos adquirir valiosos patrimônios de experiência e
conhecimento, virtude e sabedoria, se não deixarmos que se escoem os minutos,
as horas, os dias, os anos, mergulhados no sonambulismo que caracteriza tanta
gente, que dorme o sono da indiferença, sob o embalo da ilusão.
O século marca,
extrinsecamente, o período de uma vida, valioso patrimônio que Deus nos oferece
para experiências evolutivas na Terra.
Mas o valor intrínseco,
real do século dependerá do que fizermos dos três bilhões, cento e cinquenta e
três milhões e seiscentos mil segundos que o compõem.
A bondade, o amor, a
ternura, a mansuetude, a humildade, a compreensão, a paciência, a fé, são
valores que “compramos” à custa de dedicação,
renúncia, sacrifício, esforço, mas são inalienáveis, jamais os perderemos,
habilitando-nos à alegria e à paz onde estivermos,
vivendo em plenitude.
Todavia, se não fizermos
bom uso do tempo, um século poderá representar para nós mera semeadura de
inconsequência e vício, rebeldia e desatino, com colheita obrigatória de
sofrimentos e perturbações. Imperioso, portanto, que aproveitemos as horas.
Podemos começar com o que
há de errado em nós.
O vício, por exemplo, não
representa apenas perda, mas, sobretudo, comprometimento do tempo, com
repercussões negativas para o futuro.
Quantos minutos perde o
fumante, por ano, no ritual das baforadas de nicotina? Quantas horas precisa
trabalhar para alimentar o vício e pagar o tratamento de moléstias que decorrem
dele? Quantos dias abreviará de sua existência por comprometer a estabilidade
orgânica? Quantos anos sofrerá depois, com os desajustes espirituais
correspondentes?
E o maledicente, quantos
minutos perde diariamente, divagando sobre aspectos menos edificantes do
comportamento alheio? E quantas existências
gastará depois, às voltas com males que, a custa de enxergar nos outros,
sedimentará em si mesmo?
O propósito de vencer um
vício, a contenção da língua, a disciplina da palavra e das emoções, os ensaios
de humildade, o treinamento da paciência, a disposição de aprender, o desejo de
servir e muito mais, devem fazer parte de nosso empenho de cada dia.
Afinal, Deus nos oferece a
bênção do Tempo para as experiências humanas, mas fatalmente receberemos um dia
a conta pelos gastos, na aferição de nossa vida, como explica Laurindo
Rabelo no notável soneto “O Tempo”.
Deus pede estrita conta do
meu tempo,
É forçoso do tempo já dar
conta;
Mas, como dar sem tempo
tanta conta,
Eu que gastei sem conta
tanto tempo!
Para ter minha conta feita
a tempo
Dado me foi bem tempo e
não fiz nada.
Não quis sobrando tempo
fazer conta,
Quero hoje fazer conta e
falta tempo.
O vós que tendes tempo sem
ter conta,
Não gasteis esse tempo em
passatempo:
Cuidai enquanto é tempo em
fazer conta.
Mas, ah! se os que contam
com seu tempo
Fizessem desse tempo
alguma conta,
Não choravam como eu o não
ter tempo.
Richard Simonetti
e-mail:
richardsimonetti@uol.com.br
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