- É complicado esse “negócio de amar o próximo”, parece
que são atos sempre de grande desprendimento... – disse Benjamim.
- Não, nem sempre. Manifesta-se, muitas vezes, em
pequenas coisas... em gestos simples. Vou relatar-lhe um episódio que já
descrevi, mas vale a pena relembrá-lo para ilustrar:
O homem descia as escadas do Banco, chegando à calçada
observou que jovem senhora vinha em sentido contrário empurrando o carrinho com
um bebê e uma menininha que segurava linda bexiga azul que recebia seu olhar de
admiração e alegria.
O homem caminhava com passos firmes, mas a cabeça
rodopiava com pagamentos de débitos, aplicações e outras questões financeiras.
Subitamente, o balão azul escapou das mãozinhas da
menina e seu rostinho expressou o espanto e, imediatamente, a dor da perda.
Desesperadamente se pôs a correr atrás da bexiga.
No afã de pegá-la, perdeu o equilíbrio e foi ao chão.
Então as lágrimas da perda e da dor do impacto rolaram naquela facezinha
angelical.
Olhava para o balão que se ia, surfando nas ondas do
vento, e para a mãe que atenta e penalizada dizia-lhe.
- Machucou-se, filhinha?
Ante o aceno de cabeça negativo, a mãe procurou confortá-la.
- Não chore, meu amor. Mamãe comprará outra para você.
O olhar era desconsolado.
A bexiga flutuou diante do casal de hippies que a olhou como algo
exótico e continuou na tranquilidade do “paz e amor”.
Flutuou, pelas asas do vento, diante de um grupo de jovens
empoleirados em um banco.
Olharam para o balãozinho... olharam para a menininha e desataram
a rir.
Pairou diante do pipoqueiro que a olho descompromissadamente, pois
preocupado estava em entregar o saquinho de pipoca para a freguesa.
Olhei e vi. Atrás do balãozinho, livre e voando, vinha o senhor
que saíra do Banco preocupado com as finanças.
Passos acelerados. Não correndo. Talvez por vergonha.
Na primeira tentativa de pescar a “bexiga azul”, nova lufada de
vento afastou-a de suas mãos prestes a agarrá-la.
De novo, os empoleirados jovens no banco, desataram a rir. Um
deles apontando a cena que deviam senti-la como hilária ou ridícula,
gargalhava.
O circunspeto senhor não se deu por achado, acelerou mais os
passos e eis que, num átimo, vupt! Pegou o azul sonho infantil.
O sorriso de satisfação iluminou seu semblante.
Passou pelos jovens do galho, isto é, do banco, que mais não riam.
Defrontou-se com o pipoqueiro que enchia outro saquinho de pipoca.
Fronteou o casal hippie que prosseguia enrolando os seus fios na
elaboração do típico artesanato.
O homem só mirava a menina do balão azul e sua mãe, que, para
melhor atender o bebê no carrinho, haviam parado.
Esticou mais o passo.
Chegou. Tocou de leve o ombro da menininha, em quem duas lágrimas
deslizavam pela face.
O homem disse-lhe:
- Não chore meu bem. Pegue seu balão azul.
Ainda com as lágrimas na face, a menina sorriu.
- Filha! Ele pegou a sua bexiga. Não chore mais meu amor.
O homem sorriu, virou-se e prosseguiu em sua caminhada.
O amor, sob a forma de solidariedade, manifesta-se mesmo nas
situações aparentemente mais simples.
Opõem-se ao egoísmo que se corporifica na indiferença, no
pragmatismo do bem material, no individualismo histriônico.
O homem do Banco não arrefeceu diante deles, deu-lhes exemplo que
deveria dar.
Desejei conhecer a essência daquele homem.
Uma voz ecoou no templo da minha consciência:
- “Amarás Deus de todo o coração, de toda tua alma... Amarás o teu
próximo, como a ti mesmo. Toda a Lei e os profetas se acham contidos nesses
dois mandamentos”. – Jesus. (Mateus, caps 37 a 40).
A menina seguiu feliz, segurando o balãozinho azul.
O homem do relato amou a menininha da bexiga!
Aylton Paiva é estudioso
da Doutrina Espírita para sua aplicação na pessoa e na sociedade (www.ayltonpaiva.blogspot.com).
Obs.: Artigo publicado
em 28/10/2011, no Jornal Correio de Lins
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