O barco naufragara sem que todos conseguissem apanhar suas bóias de
salvamento.
Um cidadão que ficara sem ela estava a flutuar bem próximo de uma e
com tranqüilidade esperava o momento oportuno para alcançá-la diante dos
agitados movimentos de vai-e-vem das águas.
Sabia flutuar muito bem e aguardava na certeza de que a qualquer
momento pudesse agarrá-la.
Com o balanço do mar a bóia se locomovia e ele também, mantendo sempre
a mesma distância que o impossibilitava de pegá-la.
Os minutos se passaram, o cansaço já o abalava, e assim, após algum
tempo, a bóia foi se distanciando, a margem que não longe se
via...desaparecendo.
Alcançou ele a corrente marítima, que também levou para mais longe o
instrumento que lhe dava esperanças, arrastando-o com violência para as
profundezas depois de esgotadas suas energias físicas.
Outro náufrago, despejado pela embarcação nas mesmas condições,
apavorado pela turbulência jamais vista por ele, debatia-se desesperado sem
visualizar objeto algum em que pudesse se segurar e dar-lhe esperanças de
salvamento.
Respirava fundo, toda vez que a água se afastava de suas narinas, e
desprendendo esforço inusitado, começou a nadar com braçadas vigorosas
superando as próprias condições físicas.
Depois de algum tempo, quase inconsciente, sentiu a seus pés a
acariciante massagem da areia branca do leito do oceano. Afirmou-se, o andar
titubeante, e quase sem forças alcançou a praia deserta, e lançou-se ao solo
para merecido descanso.
Estabelecendo certa comparação entre o desejo de sobrevivência do
naufrago e os anseios da alma, nos leva a meditar sobre a salvação tão
almejada, que entendo como sendo a conquista de uma boa posição na escala
evolutiva espiritual, e, as condições para alcançá-la.
O salva vidas representado pelos alertas de comportamento moral e
religioso que nos aparece a todo instante, e que nos faz acreditar às vezes,
que não é para nós, quando nos colocamos em posição de tranqüilidade e suposta
sabedoria, pode fugir das nossas mãos em virtude da nossa passividade e
inércia, nos arrastando para o desconforto e a desesperança.
O vigor que nos sustenta, que nos dá chance de vitória, e que
independe de nossa força física, e sim do nosso preparo interior, composto
de: responsabilidade, bom caráter,
sentimento de solidariedade, equilíbrio, fé, capacidade de perdoar, e
disposição para a ação no bem; precisa ser ativado, ou seja: exercitado, para
nos impulsionar em direção ao objetivo que nos convém alcançar.
A tábua de salvação chegará até nós pelos nossos próprios esforços em
conquistar as virtudes necessárias para merecê-la, e nunca pelo bel prazer das
ondas de influências bajuladoras e promessas nas quais muitas vezes flutuamos
no mar da vida.
Nelson Nascimento
e-mail: nelson.nascimento1@yahoo.com.br
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